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OS BASTIDORES DA NARRAÇÃO ESPORTIVA NA BAHIA

AQUILO QUE NINGUÉM CONTA AOS ASPIRANTES A NARRADORES BAIANOS

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Foto: Renato Souza

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POR GABRIEL GALINDO
• Estudante de Jornalismo 
• Narrador do Mosaico Esportivo 
• Escritor e Comentarista de Esportes

NarraçãoGabriel Galindo
00:00 / 00:34

O INÍCIO
Desde 1922, nas comemorações do centenário da independência, quando ocorreu a primeira transmissão oficial de rádio no Brasil, na então capital do país, Rio de Janeiro, a locução é a mensageira dos acontecimentos e da informação. No âmbito esportivo, apenas em 1931 houve o início efetivo das narrações esportivas, em São Paulo, com a cobertura do Oitavo Campeonato Brasileiro de Futebol, feito pela Rádio Educadora Paulista, com Nicolau Tuma como narrador. 

Espalhando-se como um vírus pelo país, assim como qualquer novidade tecnológica, as transmissões radiofônicas esportivas alcançam milhões de brasileiros há quase um século. Por este meio, os sentimentos, interpretações e narrativas são captados exclusivamente pela audição, criando as maiores e mais marcantes sensações que só o esporte pode passar, ultrapassado por gerações e gerações.

Na Bahia, terra acostumada com grandes energias emotivas, carregadas pela raiz africana e as diversas festas, que caracterizaram o povo como um dos mais alegres do Brasil, não podia ser diferente. Além disso, a grande rivalidade local trazida pelos maiores clubes de futebol do estado (Bahia e Vitória) afloraram o crescimento do veículo de comunicação trazendo muita audiência às emissoras de rádio.

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Foto: Arquivo Pessoal

A criança baiana fanática pelo futebol e nascida no século XXI acompanhou, não só a evolução do meio, mas também foi marcada pela forma em que foram transmitidos os acontecimentos neste esporte. Nomes como João Andrade, Salomão Batista, Silvio Mendes, Ivanildo Fontes, Marlos Costa, entre outros, acostumaram os ouvintes com os bordões e maneiras de passar a emoção e os fatos daquilo que não se via pelos espectadores. Contudo, o tempo foi passando e, com os avanços tecnológicos, a maneira de se consumir este produto passou a mudar. Por isso, antes de contar os bastidores da narração, é necessário explicar o contexto no qual vive este setor.

A CHEGADA DA ERA VIRTUAL
Quando o YouTube e a Netflix foram criados, em 2005 e 2007, respectivamente, foi dada a largada na era do streaming, que passou a modernizar o setor do entretenimento, atingindo, inclusive, as jornadas esportivas. Com a inserção também ao futebol, mesmo que de forma lenta, os narradores iniciaram um processo de adaptação ao novo meio, que trouxe ferramentas nunca antes vistas nos veículos tradicionais como rádio e televisão. 

Cada emissora destes veículos passou a transmitir de forma simultânea suas jornadas também no meio virtual, ganhando, além da sua tradicional audiência, a visibilidade de internautas pelo mundo inteiro. Com isso, houve o surgimento da chamada rádio-web. Canais de internet, que transmitem jogos de forma independente, respeitando, obviamente, o artigo 42 da Lei Pelé. Conforme a lei, para a realização das transmissões as emissoras precisam ter um acordo com ambas as equipes. Caso não haja acordo com uma das equipes o jogo fica sem transmissão, mesmo que a outra equipe tenha acordo.

Essa versatilidade unificou a concorrência das tradicionais opções de escolha para os consumidores, além de trazer uma nova vertente, visto que a internet proporciona que qualquer pessoa possa criar seu canal, sem necessariamente ter um CNPJ, por exemplo. Este fato ampliou e inflou o mercado na área. No cenário baiano, mesmo que de forma mais demorada, isto não foi diferente. A conversão foi feita pelas mídias mais conhecidas, como TVE, Itapoan FM, Rádio Sociedade, Rede Bahia, entre outras emissoras. Isso despertou o sonho e interesse de aspirantes a narradores, que viram mais portas abertas para atuarem na área. Contudo, estar por dentro deste meio digital, além de ser mais um pré-requisito para quem busca à locução esportiva profissional, o nascimento deste novo meio tornou-se também um desafio aos jornalistas já estabelecidos, que passaram a ter sua qualidade ameaçada no mercado de trabalho, precisando de uma reinvenção na função. Esse fato é reafirmado pelo narrador do
Canal do Dinâmico, no Youtube, e ex-repórter de rádio baiano, Anderson Mattos.

"O Rádio nunca vai acabar, mas quem não unir as duas forças (rádio e web) vai ficar para trás. Muito para trás. Falavam para mim: ‘crie seu canal, é o presente, não o futuro’.Web hoje, quem não estiver inserido, vai ficar muito para trás".

Confira a entrevista completa clicando no vídeo abaixo:

Foto: Reprodução/Instagram

                  ANDERSON MATTOS
• Narrador do Canal do Dinâmico 
• Ex-repórter de rádio 
• Setorista do Esporte Clube Vitória

NarraçãoAnderson Mattos
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MUDANÇAS NA FUNÇÃO
Visto a necessidade de se adequar ao meio virtual e não apenas se inserir, as narrações foram adaptadas às ferramentas incluídas (número de curtidas, compartilhamentos e inscrições) nas plataformas de streaming, como YouTube, Facebook, Twitch, entre outras. Para isto, exigiu-se a criação de um locutor multifuncional, ou seja, que não fique apenas preso à função primária de narrar os acontecimentos no esporte, mas que também entenda do suporte requisitado para que a transmissão acontece neste sistema.


Se não for desse jeito, tem que ter dinheiro para pagar quem faça [...] Não tem jeito. Para quem está começando e não tem a verba para pagar um cinegrafista, narrador… ou você torna-se multifuncional ou nem entra, porque vai ficar para trás, vai ter dificuldade, adversidade, percalços também, mas tem que saber que, não é o que você vai passar, e sim de que maneira você vai levantar na hora da queda, porque cair você vai, é normal, comentou Mattos.

Apesar dos desafios, que toda profissão exige, há muito mais facilidade quando se inicia sua carreira em transmissões pela internet, por conta da liberdade trazida no meio de se produzir um conteúdo a partir dos moldes que o criador quiser, sem precisar respeitar modelos tradicionais de transmissão, trazendo mais produções autorais e opçõ
es para o público diversificar. O locutor esportivo baiano, que já passou anos na rádio, e atualmente comanda o Canal do Pressão, no Youtube, João Andrade, crê que o caminho das narrações seja através das plataformas de streaming.

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                        JOÃO ANDRADE
• Ex-narrador de rádio 
• Narrador do Canal do Pressão

NarraçãoJoão Andrade
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“O futuro está aí, no YouTube. Quem não mergulhou nessa praia vai ficar para trás [...] é uma plataforma maravilhosa que dá oportunidade a muitos radialistas e jornalistas [...] antigamente tinham poucos radialistas. Eu vejo hoje no YouTube várias pessoas novas, que começaram na internet e hoje estão colocados em equipes esportivas de rádio. Coisas que nem pensaram em alcançar. Engatinharam, como um bebê, na internet e de lá migraram”, explicou.

Confira a entrevista completa clicando no vídeo abaixo:

Foto: Reprodução/Instagram

CENÁRIO ATUAL NA BAHIA
Há muita abertura para os jornalistas esportivos aparecerem e trabalharem na Bahia, visto a quantidade de funções e opções no âmbito esportivo. Contudo, a necessidade de um investimento próprio para a produção, somado ao pouco retorno financeiro (que na grande maioria é zero), desestimula a ascensão da nova geração, que sonha em figurar às maiores emissoras locais. 

 
“Hoje tem narrador, dos meninos novos que estão aprendendo, e as vezes a rádio não tem como suportar o pagamento. Eu estou fora do rádio hoje por isso, porque eu mereço um dinheiro fixo e eles não estão bancando esse dinheiro fixo para ninguém. Então os meninos estão entrando, ganhando pouco, uma ajuda de custo, estão ‘tocando o barco’ deles para um dia galgar um lugar melhor e uma condição salarial melhor”, contou João.

A motivação é o fator principal para quem busca prosperar com a locução no futebol baiano. Desde o começo este sonho é transformado em realidade através da força de vontade do seu sonhador, da disciplina, e também qualidade, para se destacar ao ponto de ‘furar a bolha’ e alcançar as empresas mais desejadas, e que pagam bem por estes serviços prestados.

“Tenha uma outra profissão, além de narrador esportivo, para se sustentar, porque se for viver só de narrar futebol, vai morrer de fome. Recomendo procurar uma outra profissão, tipo trabalhar em um lugar e narrar bola quando necessário, por exemplo”, aconselhou Andrade.

Por outro lado, os sonhos só são trazidos a vida por aqueles que o buscam. Se há pessoas ocupando lugares que almeja alcançar, há a chance de um dia ser você. Para os narradores baianos, o segredo é se planejar, capacitar e persistir, para que a oportunidade apareça e esteja preparado para agarra-la.

“Esqueça vaidade, o glamour de ser visto e as pessoas lhe conhecerem. Não queira entrar nesse meio para ser famoso ou famosa, para ter dinheiro, que é muito menor do que as dificuldades. Não esmoreça, seja forte e vá em frente. Se é o que você quer, prepare-se psicologicamente para ir até o final, porque é complicado, mas é possível para qualquer pessoa”, complementou Anderson.

Existem muitas oportunidades de viver momentos inesquecíveis também neste caminho. Confira agora a rotina deste narrador que os escreve nos dois principais estádios do estado baiano e um pouco do que o espera nesta grande trajetória.

Para mais conteúdos como estes, siga esses perfis no Instagram: @gabrielgalindo_s  e  @mosaico.esportivo

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